sábado, 1 de setembro de 2012

Romântico

Acho muito romântico o banco mandar cartas. Tanta singeleza, aquele envelope, nome e endereço. Tudo escrito 

à máquina. As abinhas dentadas, facilitam o trabalho de abrir a mensagem. Sem saliva pra colar. Velhos tempos. 

Mas acho romântico, como eu dizia, acho romântico o banco mandar cartas. Tão romântico que fico observando 

as cartas empilhadas, se acumulando sobre a mesinha da sala, carta após carta, pegando juntas a poeira do 

tempo e o sol da manhã que atravessa a vidraça. Vou ao quintal pendurar as roupas, volto para a cozinha, lavar 

a louça. E num instante, de passagem, me deparo ali, com a presença de todas as cartas. Penso: tão romântico! 

Penso, penso, penso nas cartas. E de pensar tanto nelas, logo fico sentimental, e prefiro não abri-las, porque 

assim eu destruiria a mágica da mensagem ali contida, fechada, pelas abinhas dentadas. Tudo escrito à 

máquina. Não quero destruir o romantismo do banco, de escrever à máquina, meu nome, meu endereço, e 

mandar o homem de azul e amarelo vir me entregar. Uma carta. Ou mais. Veja só, como se lembram de mim! 

Com nome e sobrenome, pode parecer formal, mas é muito íntimo. Sabem os nomes herdados, de pai e mãe. 

Nomes de casamento, cartório, registro, enfim. Cartas, tantas cartas. Como se lembram de mim!



Katia Portes Leão.

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