domingo, 2 de janeiro de 2011

Cantando o mar.

Nasci da gota de sal corrida na face do tempo
do choro no leito, nascida do peito
pra aprofundar a vida e lavar unguento

Sete ondas jorradas do mundo
no mundo me transformei
e pra lá do mistério que é fundo
o limite entre eu e o mundo
confesso que nunca encontrei

Meus dedos de bruma bulinam o ar
reflito na pele o firmamento
com meu corpo de onda chamando pra amar
seduzindo eu jogo meu canto no vento
Pra pescador, marinheiro ou rei escutar
e entre a vida e a morte nos braços do mar
se dar em feitiço à graça doce no sal do momento

Pra quando meu homem finalmente chegar
repleta de encanto esperando estarei
de vestido com barra de espuma a dançar
perfume de rosas de conta e colar,
seja ele pescador, marinheiro ou rei

De véu maresia aos delírios me dei
ao Deus que um dia meus encantos lancei
e de amor semeamos o mundo
e no cio do ventre fecundo
nos caminhos e matas meus filhos gerei

Povoamos a terra de amor e de guerra
traçamos os fios entre o bem e o mal
semeamos a vida onde a vida se encerra
onde a guerra enterra e o amor é fatal

Renasço com o dia e no deleito da noite
ascendo a alegria e alivio o acoite
No colo do seio acalanto as dores
acolho os anseios e germino os amores

De pés escuros de âncora
aos quais nunca pude enxergar
sou eu transparência de vida
de olhos abertos no fundo do mar.

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